caeduca.com

Entrevista com Rose Mari Ferreira – Coordenadora de GT do CAEduca 2023

A entrevistada da vez é Rose Mari Ferreira.

Rose Mari Ferreira: Sou uma mulher negra, Doutoranda em Saúde Coletiva na UNISINOS – Universidade do Vale dos Sinos, em São Leopoldo/RS, bolsista CAPES/PROSUC. Estou professora substituta no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do RS-Campus Alvorada- IFRS. Sou militante das causas antirracistas, principalmente, do racismo antinegras/negros. Minha formação acadêmica de graduação é Odontologia e sou servidora pública em uma cidade na região metropolitana de Porto Alegre/RS atuando na assistência odontológica no SUS – Sistema Único de Saúde.

Cirurgiã-dentista de formação acadêmica que atuou durante 25 anos na assistência odontológica privada e que decide após esse período, “virar a chave” e dedicar-me ao serviço público. Fui nomeada servidora pública em 2013 e desde então, atuando na assistência odontológica do SUS, majoritariamente na Atenção Básica, compondo a ESF – Equipe Estratégia Saúde da Família e desde 2022, atuando no CEO – Centro de Especialidades Odontológicas (Atenção Especializada no SUS). Na quase totalidade de tempo, exercendo assistência odontológica na periferia, em territórios de alta vulnerabilidade social. Essa vivência foi fundamental para continuar na militância da causa antirracista. A descoberta como pesquisadora acontece exatamente por estar em atuação nesse território, em que as populações minorizadas, principalmente a população negra evidencia as dificuldades de acesso ao cuidado em saúde, necessitando do Sistema Único de Saúde. Realizei minhas pesquisas de especialização e mestrado, ambas em saúde coletiva, com as pessoas moradoras dos territórios, usuárias do SUS.  Com a convicção de que o conhecimento tem que ser divulgado, em parceria com professores  que atuaram na orientação, capítulos de livros foram o caminho percorrido para atingir esse objetivo. Os congressos da marca CAEdjus/CAEduca demonstraram ser o potente veículo para a divulgação dos resultados dessas pesquisas.

1) Você foi selecionada para coordenar um dos Grupos de Trabalho do CAEduca. Nos conte um pouco como foi a sua trajetória acadêmica até esta seleção.

Minha trajetória acadêmica inicia quando decido realizar uma especialização em Saúde Coletiva no IFRS – campus Alvorada.  Curso que se desenhou como um divisor de águas, nele, aprendi a ser pesquisadora e desde então, não parei mais de pesquisar. Ao término da Especialização, já iniciei o mestrado, também em Saúde Coletiva. E desse começo, considerando o marco referencial do início do mestrado, saliento que foi com o projeto da especialização (com algumas inserções) que alcancei o primeiro lugar no Mestrado em Saúde Coletiva, em um programa de pós-graduação em uma universidade pública, no Rio Grande do Sul. Nos últimos dias entes da defesa da dissertação, já havia sido aprovada em dois doutorados. Hoje sou bolsista CAPES/PROSUC no doutorado em Saúde Coletiva, com projeto já qualificado em vistas de defender em poucos meses. Importante ressaltar que em todo essa trajetória, sempre estive na assistência odontológica do SUS, inclusive durante os anos da pandemia de COVID-19, período esse que costumo dizer:” Para a Odontologia, não existe “home office”! Saliento também a importância de que as pesquisas realizadas no âmbito da Especialização e do Mestrado em Saúde Coletiva foram realizadas nos territórios  em que atuo como Cirurgiã-dentista. Dito isso, reafirmo que realizo pesquisas implicadas com a minha vivência de sanitarista, pesquisas que não podem ser descoladas da minha atuação profissional. E agora no doutorado, ainda que não esteja pesquisando mulheres no território de atuação como sanitarista, estou pesquisando mulheres negras doutoras em saúde coletiva. Mais uma vez, realizo pesquisa totalmente implicada com minhas vivências.

2) O que mais lhe chamou atenção no CAEduca?

Muitos são os pontos que chamam a atenção no Congresso, entretanto, a forma virtual em que tudo se realiza,  possibilita a participação para além do presencial. E outro ponto que considero significante e diferencial, são os valores das inscrições ao congresso se  apresentarem proporcionais à titulação do estudante, o que na minha concepção, é uma forma de participação com princípios de equidade.

3) A temática do seu GT é fundamental para pensar a educação de maneira interdisciplinar. O que você concebe como principal desafio da temática?

Ao longo de minha trajetória acadêmica e realizando pesquisas, pude perceber que falar sobre educação para relações étnico-raciais com certa frequência tende a causar desconforto, principalmente nas  pessoas detentoras de diversos privilégios. Então, mais do que necessário, esse debate deve estar presente em todos os espaços, principalmente, em espaços cuja educação e discussões acadêmicas estejam envolvidas. É sempre um desafio propor às pessoas que estão em situações de conforto que avaliem, repensem, estudem, analisem duas posições na sociedade. Na academia particularmente, as desigualdades ficam muito evidentes, pois temos um histórico de educação construído e edificado no racismo estrutural. Debater sobre a pouca presença de pessoas negras nos diversos espaços da academia ( graduação e pós-graduação), mexe com as bases formadoras do ensino superior no Brasil. É um desafio para o qual nos determinamos a discutir e esperamos com essa atitude, evidenciar o debate e mais do que proporcionar reflexões, gerar atitudes. 

4) Bom, outros pessoas vão se espelhar em você para participarem das próximas iniciativas do CAEduca. Que dica final você daria para que possam produzir textos de qualidade e inovadores?

Eu aproveitaria essa oportunidade de participar, desta vez como coordenadora, que acadêmicas e acadêmicos que têm comprometimento com as discussões que são desenvolvidas ao longo de suas trajetórias acadêmicas não desperdicem oportunidades. Como tenho formação e atuação na saúde, é uma das frases que usamos em relação às oportunidades que se apresentam aos  usuárias/os do SUS: “Não desperdiçar oportunidades”!  Igualmente aproveitaria esse espaço para dizer aos acadêmicos e acadêmicas que participem dos congressos ofertados pela marca CAEjus/CAEduca. Esses congressos se traduzem como oportunidades riquíssimas de divulgação de conhecimento, compartilhamento de experiências. Aproveitem!

 

Gostou da entrevista? Não esqueça de comentar e compartilhar.

Para mais informações sobre o CAEduca e se cadastrar para novidades, visite o site www.caeduca.com

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *