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Entrevista com Daniele Miranda – Coordenadora de GT do CAEduca 2025

A entrevistada da vez é Daniele Miranda.

Daniele Miranda é Doutora e Mestre em Educação pela Universidad de Santiago do Chile – USACH; Especialista em Educação Especial e Gestão Educacional pela Universidade de Pernambuco – UPE; Pedagoga; Bióloga; Atuou como Gerente Geral de Política e Formação Pedagógica (GGPFP) -Prefeitura do Recife, gerenciando projetos e normativas que visam a implementação de políticas públicas voltadas para a formação
continuada em Rede e Inclusão Educacional; Gestora da Escola de Formação dos Educadores do Recife Professor Paulo Freire (EFER);

Além disso, se dedica suas pesquisas principalmente aos seguintes temas: Neurociências e Desenvolvimento Infantil. Novo Normal da Educação Brasileira. Educação Bilíngue, Currículo, Políticas Públicas, Inclusão Educacional, Escola e Diversidade, Tecnologia
Assistiva, Acessibilidade, Avaliação, Inovação Educacional, Tecnologia na Educação e TEA – Transtorno do Espectro Autista, Dislexia e TDAH.


Autora dos Livros:
1 – Educação Bilíngue: A importância da Libras para os Professores da Educação Básica
nas Escolas Públicas do Recife. (Versão em Língua Portuguesa e Espanhol)
2 – Educação Inclusiva: Pontos e Contrapontos para uma Escola do Futuro. 3 – O “Novo Normal” da Educação Brasileira: Caminhos para um Escola Híbrida e
Multimodal. 4 – Educação Inclusiva e Especial Volume 1 e Volume 2. Coordenadora do GT de Educação Inclusiva – GTINC – SEDUC – Recife – PE

1) Você foi selecionada para coordenar um dos Grupos de Trabalho do CAEduca. Nos conte um pouco como foi a sua trajetória acadêmica até esta seleção.

Iniciei minha trajetória acadêmica inspirada em minha mãe, que sempre externou o desejo em ser professora. Logo, o estímulo pela leitura e escrita me acompanhou desde a infância, através das brincadeiras infantis, em que eu atuava como “professora” e minhas bonecas como “alunas”.

Durante o Ensino Médio, me apaixonei pela origem da vida e pelas ciências que permeiam esse conhecimento, além da continuidade do desejo em lecionar. Assim, cursei o normal médio e magistério concomitantemente. Prestei vestibular para Bacharelado em Ciências Biológicas e Pedagogia, em duas universidades diferentes, onde fui aprovada e cursei novamente os dois cursos. A esta altura, já lecionava numa pequena escola do bairro em que residia. Durante longos anos, minha rotina era trabalhar pela manhã e estudar nos períodos da tarde e noite.

Assumi minha primeira sala de aula aos 17 anos e, desde esse momento, sempre percebi a diferença e a diversidade como ponto de ressignificação da prática pedagógica. Não se tratava mais de como se ensina, mas, principalmente, de como se aprende.

O número de crianças com deficiência, transtornos e dificuldades de aprendizagem aumentava consideravelmente ao longo dos anos, o que me interessou bastante e me fez buscar caminhos e possibilidades para o trabalho com e para a diversidade. Terminei a graduação e logo me especializei em Psicopedagogia, Educação Inclusiva e Gestão Educacional.

Alguns podem me questionar o porquê da especialização em Gestão Educacional, e assim respondo: Educação Inclusiva não se faz apenas na sala de aula ou nas escolas. A mesma criança que frequenta a escola é a mesma que transita pela cidade, utilizando os equipamentos de saúde, assistência social, turismo, mobilidade urbana etc. Para que a Inclusão Educacional, nos seus mais variados suportes, tenha sucesso, a intersetorialidade precisa e deve funcionar.

Durante minha experiência docente, nunca tive uma sala de aula regular apenas com crianças neurotípicas. Na maioria das vezes, minha sala de aula acomodava cada vez mais crianças e adolescentes neurodivergentes.

Mais tarde, ao me casar, fui mãe de gêmeos e um deles nasceu com Paralisia Cerebral, provocada pela prematuridade e por conta de uma hipoxia cerebral, ou, popularmente conhecida como falta de oxigênio no cérebro. Sem recursos e nem equipamentos de saúde que identificassem, diagnosticavam e intervissem de maneira global e sistêmica, aprofundei meus estudos em intervenção e estimulação precoce, tendo como aliada a AACD durante este processo.

Criei seu primeiro programa de intervenção precoce e, obtendo sucesso, logo surgiram o segundo e o terceiro.

Minha experiência no Chile foi inovadora, na perspectiva de perceber e intervir no cenário educacional de maneira efetiva e criativa. Isso me inspirou a perceber que a Universidade, além de dialogar com a Educação Básica, também deve manter Doutores e Mestres atuando nas escolas — seja na docência, coordenação ou gestão. Assim, contribuições significativas podem ser levadas e trazidas para a implementação de políticas públicas eficazes, reais, democráticas e inovadoras, que inspiram, ao meu ver, outras práticas da América Latina.

Daí em diante, não parei de pesquisar e investir não só em minha formação acadêmica, mas, principalmente, na formação continuada de pais, famílias e comunidade escolar, em busca do entendimento e da quebra de paradigmas, no que tange principalmente às barreiras atitudinais.

Diante do exposto, fui convidada a assumir cargos e funções estratégicas para fomentar e implementar Políticas Públicas na Educação Básica da Secretaria de Educação do Recife. Durante 8 anos de gestão, avançamos em normativas e políticas públicas acerca de:

  • Criação das Salas Bilíngues para surdos;
  • Garantia do Professor do Atendimento Educacional Especializado nas Unidades Educacionais;
  • Garantia do Auxiliar de Atendimento e Desenvolvimento do Estudante Especial (AADEE);
  • Garantia de intérprete para estudantes surdos que não se encontram matriculados nas Salas Bilíngues;
  • Implementação da Política de Ensino da Rede Municipal;
  • Implementação do Transporte Escolar Inclusivo para estudantes com deficiência e mobilidade reduzida;
  • Garantia do Vale-Transporte para o estudante dos Anos Finais, bem como para os pais ou responsáveis pelo estudante com deficiência ou transtorno.

Assim, atualmente, coordeno o GTINC – Grupo de Trabalho de Educação Inclusiva, ministrando formação continuada de maneira interseccional (desde a Educação Infantil até a Educação de Jovens e Adultos), com foco no desenvolvimento integral do ser humano e base nas Neurociências e na Política Nacional na Perspectiva Inclusiva.

Não obstante a isso, também atuo nas discussões representando a Secretaria de Educação do Recife na elaboração do Plano Municipal contra o Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes da Cidade do Recife, no que tange à Exploração Sexual e Comercial de Crianças e Adolescentes do Recife (ESCCA).

2) O que mais lhe chamou atenção no CAEduca?

A excelência no trabalho, fomento e divulgação de experiências relevantes e exitosas em Educação, contribuindo para a mudança de comportamento dos agentes envolvidos bem com da transformação social.

3) A temática do seu GT é fundamental para pensar a educação de maneira interdisciplinar. O que você concebe como principal desafio da temática?

Analisando o território brasileiro, sua multiculturalidade bem como sua diversidade, pensar, agir e implementar Políticas Públicas que pautem no acesso, permanência e sucesso na aprendizagem de todas as crianças sem distinção de etnia, condição social, física, intelectual , emocional e motora por si só já é desafiador.

Ao focarmos na temática do GT 04 – EDUCAÇÃO INCLUSIVA E POLÍTICAS PÚBLICAS, o grande desafio é atender com equidade todas as crianças sem distinção, abordando o fazer pedagógico de maneira inovadora focando em recursos pedagógicos diversificados e na flexibilização curricular lançando mão das tecnologias atuais. A formação continuada do professor é senão a grande mola propulsora para que as engrenagens funcionem no chão da escola.

4) Bom, outros pessoas vão se espelhar em você para participarem das próximas iniciativas do CAEduca. Que dica final você daria para que possam produzir textos de qualidade e inovadores?

A minha dica final é: escrevam com propósito. Um bom texto nasce da clareza sobre o que queremos comunicar e do desejo genuíno de impactar o leitor. Leiam bastante, busquem diferentes referências, mas não tenham medo de inovar e de colocar sua própria identidade no que produzem. A originalidade está justamente no jeito único de cada um enxergar o mundo. E, acima de tudo, revisem com carinho: um texto bem cuidado transmite respeito e valor. Sejam criativos, ousados e, principalmente, autênticos.

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